Fintechs no Brasil: o cenário atual e o futuro do setor
Bruno Zago
18 julho 2016 - 19:00 | Atualizado em 12 abril 2023 - 18:48
Atravessamos uma das mais profundas e graves crises econômicas da história do Brasil, afetando a economia e também a indústria de capital markets, levando à recessão um dos setores que até 2011 vinha investindo consideravelmente em inovação, expansão e tecnologia. O número de corretoras de valores diminuiu e a capacidade de investimentos reduziu, com muitas deixaram de operar diretamente na Bolsa e adotando o modelo PN (Participante de Negociação). Outras venderam suas carteiras de clientes e algumas viram suas margens operacionais serem esmagadas. Porém, como em qualquer mercado, há aqueles que superam a crise e conseguem crescer.
Quando olhamos para o mercado de capitais brasileiro, observamos que entre janeiro de 2003 e maio de 2008, o principal índice da bolsa brasileira, o IBOVESPA (IBOV), teve uma valorização acima de 600%. No entanto, de lá para cá, vivenciamos sua forte desvalorização. Para se ter uma ideia, em janeiro de 2003, o IBOV fechou em 10.941 pontos e, em maio de 2008, 72.592 pontos. Já em meados de junho deste ano, o índice encerrou o pregão em 50.105 pontos, após o Reino Unido anunciar sua saída da União Europeia.
Parece que tudo se traduz em uma grande tragédia para a indústria do mercado de capitais. De fato, estamos vivendo uma das piores crises econômicas e isto afetou diretamente o setor de serviços para o mercado de capitais. Porém, há boas notícias. Uma delas é que a economia é cíclica e acredito que estejamos no fim deste amargo período. Se olharmos para o IBOVESPA, só em 2016 tivemos uma valorização acima de 15% e acredito que, embora tenhamos diversos desafios e dificuldades na economia brasileira, o pior já passou. A estabilização dos principais indicadores econômicos abre espaço para a retomada de crescimento da economia. Mais cedo do que muitos esperam, a economia real voltará a crescer.
Apesar dos últimos anos de fraca expansão em inovação nos serviços financeiros do mercado de capitais, na próxima década, veremos a expansão de dezenas de Fintechs e crescimento da tecnologia em serviços financeiros. Cito abaixo seis motivos para embasar minha opinião:
Retomada do crescimento e o impacto no mercado de capitais
Os indicadores financeiros e econômicos da economia brasileira já dão sinais de estabilização. Isto fará com que a economia tenha fôlego para retomar o crescimento. Porém, como o mercado financeiro precifica antes, teremos uma forte valorização das ações brasileiras já no curto e médio prazo. A valorização das ações gerará um fluxo positivo de entrada de mais clientes no setor, principalmente para pessoa física, dando novo fôlego de investimentos para a indústria. As empresas voltarão a crescer e demandarão crédito e isto impulsionará a retomada dos IPOs (Oferta Pública Inicial) de ações.
Demanda reprimida de investimentos em novos serviços e produtos
Também relacionado com o primeiro motivo, há uma demanda reprimida para o consumo de tecnologia na indústria de mercado de capitais, que aconteceu quando os participantes viram suas margens esmagadas e milhares de clientes pessoas físicas e institucionais abandonarem seus investimentos e posições no mercado acionário brasileiro. Agora, as instituições financeiras tradicionais voltarão a investir como também cooperarão com o desenvolvimento de parceiros externos e provedores de tecnologia, fortalecendo o surgimento de mais Fintechs no mercado.
Instituições financeiras com ambientes para conectar novos sistemas e apps
O terceiro motivo tem a ver com tendências de consumo e usabilidade. A infraestrutura do mercado se padronizou. Os sistemas e softwares utilizados pelo mercado de capitais se padronizaram com o FIX protocol para os ambientes de trading e barramentos de serviços para outros produtos. Isto permitirá que provedores de tecnologia e startups possam desenvolver novos negócios integrados às instituições financeiras utilizando modelos de DMA (Direct Market Access) e Open Banking (serviços financeiros publicados via API).
Novos padrões de usabilidade, UX e canais digitais
O quarto motivo é uma sociedade crescente habituada com aplicativos e sistemas digitais de alto impacto em UX (User Experience). Esta sociedade nasceu e cresceu acostumada com as facilidades e padrões impostos pelos gigantes de tecnologia como Apple, Google e Microsoft. Estes consumidores não exigirão nada menos de seus serviços financeiros. Aqui, as pequenas empresas, startups, fintechs e provedores de tecnologia terão mais habilidade para desenvolverem novos serviços para o mercado de capitais do que as próprias instituições, favorecendo o empreendedorismo no mercado de capitais.
Desemprego e tendências de self-employed
Com a consolidação do mercado e das instituições financeiras, milhares de profissionais do mercado financeiro perderam seus postos de trabalho. Muitos destes se recolocaram no mercado como agentes autônomos de investimentos captando clientes e distribuindo serviços financeiros das instituições representadas. Estes profissionais são cheios de ideias inovadoras que, em geral, requerem tecnologia para ser implementadas – que, quando estruturadas, podem originar novos negócios e novos serviços financeiros baseados em tecnologia. Aqui, poderá haver uma onda de geração de pequenos serviços e novas fintechs para atender nichos de clientes e proverem serviços específicos ao mercado.
Investimentos: dos bancos para empresas independentes
No Brasil, mais de 90% dos investimentos são alocados em produtos financeiros bancários. Nos EUA, este número é próximo de 2%. Isto abre espaço para migração de clientes para instituições independentes buscando melhores serviços e mais rentabilidade. As fintechs poderão abocanhar boa parte deste fluxo, oferecendo serviços de nicho e melhor experiência aos clientes.
Com os seis motivos listados acima ocorrendo simultaneamente, uma geração de inúmeras fintechs no Brasil irá surgir. Observando esta tendência, a Cedro estruturou uma plataforma de serviços financeiros batizada de Cedro Open Banking, que permite a implementação de ideias inovadoras no mercado de capitais e a sua integração às instituições financeiras parceiras. Diversas fintechs aceleraram o seu time-to-market e o seu custo de produção utilizando nossa tecnologia.
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